A casa que eu morava na Barra Funda tinha um quintal grande, cheio dos cacos de lajota, com os detalhes amarelos e pretos, assim como o da foto.
Para a mente de uma criança tudo é motivo para viajar. Eu viajava na montagem dos cacos.
Imaginava que era bem mais difícil colar pedaços do que a peça inteira, então por que "colavam" os pedaços e não a peça inteira? Deve dar um trabalhão...
Será que quem fez o chão queria alguma simetria entre as peças amarelas e pretas?
E tentava achar a simetria entre elas. Pra mim sim, a pessoa que com toda a paciência do universo, colou centenas , quiça milhares, de caquinhos um por um, pensando numa lógica, num desenho, e , por que não?, uma arte. Formam um quebra cabeça bem elaborado, onde as peças se encontram e se encaixam, como seria possível se não intencional?
Nos finais de semana ensolarados era uma delícia esfregar sabão em pó e escorregar. Nos dias de calor , deitava com meus irmãos "debaixo da garagem" que era o lugar mais fresco, na verdade úmido pois o esgoto passava por baixo.
Sinto muita falta daquele quintal.
Sinto falta dele antes do vizinho crente enriquecer e construir mais 2 andares, deixando meu quintal num eco triste, num corredor comprido e com pouco sol.
Sinto falta do cheiro de óleo dos carros velhos que meu pai insistia em ter.
Dos cachorros correndo nele, e aqueles que meus pais insistiam em abandonar e doar.
Dar milhares de baratas que do esgoto saiam. OPA! Não sinto.
Enfim, não foi a época mais feliz da minha vida mas foi minha infância e hoje eu posso deixar o rancor para trás e lembrar de tudo isso com nostalgia e algum tipo de carinho. Do meu modo. Ainda assim carinho.
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