14 de setembro de 2009

Cristina não sabe voar

Posto que nasceu com asas, não sabe voar.
Deixou atrofiar, por conta de que ?, ficou adiando.
Adiou e tremeu quando foi usá-las. No último minuto, desistiu.
Cristina não sabe voar.
Tem belas asas, brancas, branquinhas, enormes, perfeitas, usa até shampoo específico, mas não são úteis.
Apenas para admiração dos transeuntes.
Isso sim. Admirada, querida, desejada. Isso sim!
Cristina vendo-se sempre no seu pedestal, teve uma queda brusca.
Decidiu que deveria ser capaz de tal feitio.
Procurou escola especializada, aula particular, psicólogo, psicanalista, tomou remédio pra ver se melhorava sua ansiedade, nada resolveu.
Sentiu-se perdida.
Cristina, que nunca olhava para os demais, viu-se no espelho.
Asas, enormes.
E olhou pela janela. Mortais, esses não precisam de tamanha penugem.
E resolveu procurar na internet, era moderna, essa que a gente não precisa olhar pras pessoas pra perguntar algo.
Entrou num desses fóruns.
E viu que, olha só, todos tinham asas, comedidas.
Somente o necessário para o voo, dizia em um. Não é necessário exacerbados cuidados, dizia em outro.
Cristina sentada em frente ao seu espelho. Chora, chora, é preciso. E a tesoura corta uma parte do seu orgulho em forma de penas. Ela não pode voar. Mas deu o primeiro passo rente ao abismo.


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