19 de outubro de 2009

Meu professor de administração, Nietzsche e um caso de ciúmes

Já falei que sou formada, Ciência da Computação e tudo mais.
Nem todas as aulas eram sobre cálculo da integral, compilação, C++, redes e toda essa coisa chata e técnica. Havia alguma humanidade também, uma em especial que gostávamos mais que todas as outras binárias. Era de administração, com um professor francês, do qual eu não lembrarei o nome agora. Fato é que em vez de aprender os razonetes ficávamos discutindo economia, sociologia e um pouco de filosofia. Sabido é, também, que cai nas exatas de teimosa, meu mundo é humanóide. Ou seja, claro entendo mais fácil o porquê vivemos na merda do que um déficit na empresa, (ou não), e , sendo assim, participava ativamente das aulas. Um dia, comentávamos Nietzsche, claro que não lembro o contexto, e disse que gostaria de conhecer melhor, para poder comentar. Pois então na aula seguinte o senhor francês me presenteou com "Assim falou Zaratustra" e "Para Além do Bem e do Mal" , e ainda disse que eu tinha capacidade de aprender, e que eu era a melhor aluna , não a mais esforçada, mas a mais inteligente que ele já teve. Em alto e bom som, para todos os alunos ouvirem ( e concordarem, beijos) . Vindo de um professor com 20 anos de docência, eu fiquei muito emocionada, orgulhosa e o mais importante, motivada.
Ao chegar à minha humilde residência, peguei o meu pré pago e fiz a ligação ao meu namorado da época para contar o ocorrido, aguardando um "parabéns!" que fosse.
Pois segue o diálogo:

Eu: Putiz, você não vai acreditar, recebi elogios na aula do professor de ADM, e ele me deu livros de presente.
Ele: Presente? Ele quer mesmo é te comer o filho da puta.

Não preciso continuar né? Eu posso dizer que foi o ponto final da relação, apesar de todas as outras demonstrações de ciúmes, e do resto do tempo que durou.
Porque não importa o quanto Nietzsche, Kant, Schopenhauer, Jung, Platão, Sêneca, Freud, Sartre, Kierkegaard, Jesus Cristo, Santo Agostinho, Putaquepariuaquatro que eu conhecia e lia, o que importou realmente foi o ato de que o professor, no imaginário da pessoa da época, queria me comer. Não importou, também, o fato de alguém me achar inteligente e querer que eu evoluísse, porque a minha evolução certamente iria de encontro com as ideias dele, o que resultaria no término da relação, pois é muito mais difícil abrir mão de seus ideias fracos e estudar, e é muito mais fácil acabar com a auto estima da pessoa, para deixá-la sempre ali embaixo da sola do sapato, no controle.
Mas, em vez de Mariana aprender com o tal do ciúme destrutivo e avassalador, ela perpetuou isso, e levou como alguma verdade.
Daí o que aconteceu foi que, com o ciúme veio a possessão, com a possessão a dominação de outra pessoa, como círculo vicioso, e claro, ao fim de um relacionamento que poderia dar certo, de verdade.
Não que eu tenha aprendido a não ter ciúmes. Bem verdade que eu tento nesse exato momento, lidar com isso, ainda sem sucesso. Pois o que eu tento e tentarei com todo meu esforço é não sufocar o outro nessa fumaça estranha, sentir ciúmes e ter ciúmes é como tomar veneno, metáfora clichê, mas clichês estão ai pra isso.
E nunca aceitar que alguém me subjugue. Comer ou não, faz parte do cardápio. Está todo mundo ai, pronto pra dar e pra comer. Um grande self-service humano.
Será que Schopenhauer estava certo ao dizer que a vontade é cega, e que leva ao sofrimento? Que a felicidade é negar o desejo? Acho que ele só queria era comer mesmo. Ponto. Mais fácil né? Enxergar apenas o que se quer, de uma conversa inteira. Humano, não?

Um comentário:

Mieko disse...

E nisso tudo uma sanidade de Mariana! Raro (necessário essa dose, pois chega ser um paradoxo)... Com você não combina e, isso foi um elogio.
Mas: Ufa!