15 de julho de 2011

O menino da latinha

Tem um rapazinho no bairro que é daquele personagem que fica marcado sabe? Todo mundo conhece. Desde pequeno, eu lembro que bem pequeno, o moleque vive de catar latinhas e pedir trocados. Com o tempo as pessoas do bairro se afeiçoaram, e ele chegou a ganhar uma camiseta do São Paulo de presente. (eu passei no momento em que davam o famigerado presente).
Mas sempre tive uma ponta de raiva, misturada com uma culpa por ter esse sentimento de uma pessoa tão carente. Mas eu explico. Minha raiva vinha da cara de dó que ele fazia cada vez que alguma pessoa passava. Eu sei, não deveria julgar. Mas aquilo me incomodava, tinha vontade de sacudi-lo e dizer que fazer alguém sentir dó dele era submissão, era deprimente, deplorável! Claro, uma transferência de alguma maneira, visto que se essa cara de cachorro pidão arrecadou mais fundos para ele, era vantagem.
Porém ontem, saindo do metrô, que é o point dele, vi que estava vendendo balinhas de goma. Crescido, ele está bem crescido. Eu não encontrei mais aquela cara, nem mais aqueles olhos marejados de lágrimas doidas, nem os pés sujos, nem as mãos cortadas.
Encontrei um vendedor. Encontrei dignidade. Vi olhos de esperança, uma esperança de menino sofrido que venceu a dureza da família, a dureza das ruas e do seu destino.
E pensei com grande felicidade que esse moleque tem futuro.
Por andar apressado não comprei as balas. Ou talvez por não querer aquele momento marcante, ato egoísta. Nunca tive coragem de falar com ele, quando me incomodava. Mas sim, comprarei suas balas numa próxima oportunidade, num ato de compaixão com a sua esperança que agora foi revelada.

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